terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

LANCIA FULVIA

H. Kallström / G. Haggbom
Rally RAC 1969



O Fulvia foi o primeiro modelo da Lancia que alcançou um título mundial de construtores para a marca italiana, corria o ano de 1972. Contudo, antes disso o Fulvia já tinha obtido um grande número de vitórias e lugares de honra em muitas provas de prestígio internacional. Pilotos do calibre de Ove Andersson, Rauno Aaltonen, Simo Lampinen, Harry Kallström ou Tony Fall sentaram-se ao volante do Fulvia, obtendo importantes resultados no final da década de 1960 e início da de 1970.
A produção do Lancia Fulvia começou em 1963 com o objetivo de substituir o Apia e o Flavia, que foram, no seu tempo, dois grandes êxitos comerciais da marca italiana.
O Fulvia era um carro moderno para a sua época. Não só pela tração dianteira, pouco comum na década de 1960, como também pela concepção de um motor vanguardista da autoria do engenheiro Zaccone Mina. Ao procurar um motor compacto. optou por um quatro cilindros em V inclinado a 45 graus sobre a esquerda e montado na parte dianteira. Alimentado por dois carburadores de duplo corpo, a sua potência era respeitável. A suspensão de rodas independentes e os quatro travões de disco mantiveram-se invariáveis nas diferentes versões que se fabricaram do Fulvia Coupé HF, motor de 1215 cc para uma potência de 88cv, recebeu uma carroçaria mais leve (portas e capot de alumínio, vidros plexiglás e ausência de pára-choques).


As evoluções foram sendo melhoradas e em 1969 surgiu o 1.6 HF série 2, que conquistou o Mundial de Marcas. Depois recebeu uma caixa de cinco velocidades, em vez da de quatro, e a sua evolução terminou quando o modelo deixou de ser fabricado.
Os êxitos desportivos do carro foram notáveis. Leo Cella, no San Remo de 1965, obteve a primeira vitória que abriu o caminho a outros pilotos, que exibiram as suas habilidades com este modelo. Ove Andersson foi terceiro nesse San Remo, iniciando uma sucessão de pódios em 1967: Monte Carlo (2º), Acrópole (2º) e terceiro de novo em San Remo. A primeira vitória no Mundial chegou pela mão de Tony Fall no Rally de Portugal de 1968, acabando nesse mesmo ano Pat Moss em segundo no San Remo. Kallström venceu o Campeonato da Europa desse ano. O auge aconteceu no Rally de San Remo de 1969 quando os Fulvia dominaram o pódio, com Harry Kallström como vencedor, acompanhado por Rauno Aaltonen, segundo, e Barbassio, terceiro.
No ano seguinte Simo Lampinen impôs-se com o Fulvia no Rally de Portugal à frente de Sandro Munari e semanas mais tarde o próprio Lampinen acabou em terceiro no Mil Lagos, o único pódio do carro nesta exigente prova nórdica. Por seu lado, Kallström, nesse ano ficou em segundo no San Remo.
Em 1971 o Fulvia nunca triunfou mas, mesmo assim, os pilotos que o conduziram subiram ao pódio: Munari (Portugal, segundo), Ballestrini e Barbassio (segundo e terceiro respetivamente no San Remo), Kallström (terceiro na Suécia) e Lampinen, (terceiro na Acrópole). A temporada seguinte do Mundial de Marcas disputou-se na Europa e foi o ano do grande êxito do Fulvia, que obteve o primeiro título Mundial de Marcas para a Lancia.


Munari triunfou em Monte Carlo, Ballestrini e Barbassio alcançaram as duas primeiras posições do San Remo, Lampinen foi segundo na Acrópole e Kallström, terceiro na Suécia. Em 1973, de volta ao Mundial, o Fulvia iniciou o seu declínio face a outros carros mais competitivos que forçaram os responsáveis a preparar o substituto, o Lancia Stratos.
O Rally de Inglaterra de 1969 disputou-se em condições meteorológicas extremas. A meteorologia não previu um súbito agravamento do estado do tempo, com tempestades de neve e um frio intenso, que marcaram a prova desde o primeiro dia. A neve acabou por se transformar em lama em quase todos os troços e etapas. A dureza do clima afetou as equipas e o desenlace da prova. Os pilotos nórdicos, mais habituados às intempéries, controlaram a primeira parte do rally, com três suecos à frente da geral. Bjorn Waldegaard e o seu Porsche foi o primeiro líder com uma vantagem que chegou a ser de cinco minutos sobre o Fulvia de Kallström e o Saab de Tom Trana.
O Rally entrou no País de Gales com as estradas praticamente impraticáveis, verdadeiros lamaçais que provocaram um aumento dos abandonos Um deles foi o Waldegaard e, assim Kallström passou para a frente da geral e acabou por vencer à frente de Carl Orrenius (Saab 96 V4) e de Tony Fall, também com um Fulvia. Foi a primeira vitória de uma marca italiana nesta prova, acontecimento que se repetiria no ano seguinte com o próprio Kallström, que se impôs à frente dos Opel Kadett de Ove Andersson e Lillebror Nasenius.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

TRIUMPH TR7 V8

Manx International Rally 1978
T. Pond / F. Gallagher



Em Inglaterra, a paixão pelo automobilismo existe desde os inícios da competição. A questão da insularidade não foi um obstáculo e pilotos e marcas ingleses destacaram-se sempre nas competições do mais alto nível em qualquer uma das modalidades deste desporto. Contudo, é nas provas nacionais e locais que se vive o verdadeiro espírito desse desporto. Daqui, desta base popular, surgiu Tony Pond, um piloto que desenvolveu a sua carreira entre as décadas de 1970 e 1980 e que atingiu o auge no RAC Rally de 1985, no qual ficou em terceiro. Com o Triumph TR7 V8 obteve duas das suas três vitórias no Manx International Rally.
Ao longo dos anos, as marcas de automóveis britânicas cultivaram um prestígio nas diferentes áreas de competição; Fórmula 1, rallies ou provas de resistência. A história do desporto automóvel ficou marcada por nomes como Aston-Martin, Jaguar, MG ou Austin-Healey. Existe uma cultura muito enraizada do motor nas Ilhas Britânicas e qualquer prova local é um bom exemplo de participação e entusiasmo. O expoente máximo na modalidade de rallies é o RAC Rally, prova que tradicionalmente encerra o Mundial. No entanto, ao longo do ano são inúmeras as provas que se disputam e que gozam de boa saúde graças precisamente à grandeza da paixão britânica. As marcas não se deixam ficar para trás das organizações nem dos fãs. É considerado um dever patriótico introduzir os seus modelos no mundo competitivo, mesmo que a orientação da empresa não siga esse caminho. A Triumph não foi uma excepção e a sua história de triunfos na competição iniciou-se na década de 1950 com o TR2. Mais tarde verificou-se uma longa paragem que foi interrompida em Outubro de 1975, quando a Leyland Cars anunciou o regresso oficial à competição com o TR7 V8, cuja produção manteve de 1975 a 1981, para disputar todas as provas do Campeonato Britânico do ano seguinte.


Fá-lo-ia com três carros e avançou os nomes dos pilotos: Tony Pond e Brian Culcheth.
Talvez tenha sido uma decisão precipitada e houve um entusiasmo excessivo aquando do anúncio oficial. O fato é que a estreia ocorreu quando o campeonato já começara, no Rally de Gales, e resultado não foi o esperado, pois nenhum dos três carros terminou a prova. Foi na terceira prova em que o TR7 V8 participou, no Isle of Manx International Trophy, que se alcançaram o terceiro e o quinto lugares, coincidindo com a estreia de uma nova caixa de cinco velocidades. Antes demais, o Triumph TR7 V8 não ficou na História como um carro fácil de conduzir, mas Tony Pond soube extrair-lhe todo o rendimento. Rob Arthur, o co-piloto de Pond, explicou bem o comportamento do carro: «Quando se saltava, nunca se sabia onde se ia aterrar; não se via nada. De uma coisa ninguém duvide: era precisa muita coragem para o conduzir.» E disse acerca de Pond: «Sabia sacar sempre dez por cento a mais do que os outros sem precisar de arriscar.»
Tony Pond tornou-se uma lenda na ilha de Man ao ganhar duas edições do Manx International Rally, em 1978 e 1980 com o Triumph TR7 V8, e repetir em 1981, nessa altura com um Vauxhall Chevette. Nascido em Hillingdon, a oeste de Londres, a 23 de Novembro de 1945, Pond chegou ao coração dos seus compatriotas e ao auge da sua carreira de piloto no RAC Rally de 1985, quando acabou em terceiro com o seu Metro 6R4 atrás dos potentes Delta S4 de Henri Toivonen e Markku Alen. Tanto o Metro como o Delta estrearam-se nessa prova no Mundial.
Contudo, dez anos antes Pond já era conhecido, mais do que pela sua figura corpulenta e pelo seu grande bigode, pelas suas vitórias em rallies sul-africanos ao volante de Chevrolet. Em 1975, na sua segunda participação no RAC Rally (estreara-se no ano anterior com um Opel Ascona mas teve que abandonar), terminou num brilhante quarto lugar. Nessa ocasião pilotava um Opel Kadett GT/E. O seu prestígio foi aumentando com o quarto lugar no Rally de San Remo de 1979 com um Talbot Sunbeam Lotus e com o terceiro lugar no pódio do Tour de Corse de 1981, então com um Datsun Violet GT.


Os fãs britânicos gostavam dele pela sua simplicidade, que nunca ocultou e da qual por vezes até se vangloriava, e também pelos seus dotes ao volante, o seu desejo de vitória e a sua regularidade, que o colocaram muito perto dos melhores da especialidade. Zeloso da intimidade da sua vida familiar, deixou a competição quando a FIA decidiu abolir os carros do Grupo B em 1987. Faleceu em 2002 devido a um cancro, aos 56 anos, na sua casa da ilha de Man.
Quando em 1976 a British Leyland lhe propôs ser piloto oficial do Triumph TR7 V8, Pond tinha 30 anos. Para ele, o orgulho de pilotar um carro inglês era mais importante do que a tentadora oferta que a Fiat lhe fez em 1978 para integrar a sua potente equipa. Alegou que não estava disposto a conduzir um carro com o volante à esquerda, o que enalteceu o patriotismo britânico. A sua reputação esteve sempre acima dos seus resultados. Pond entregou-se de corpo e alma à British Leyland; não era apenas piloto da equipa, mas também era a atração nos salões e exposições automobilísticas ou desenvolvia os MG para pilotos amadores. Com um Rover 800 Vitesse rodou a mais de 160km/h pelas estreitas estradas da ilha de Man durante a disputa da competição motociclista. Vivia para os motores e caracterizou-se sempre por um grande entusiasmo.
Em 1978, quando Pond o venceu pela primeira vez, o Manx Rally fazia parte da primeira edição do Tarmac Championship, competição britânica que agrupava vários rallies. Nessa altura, o maior rival de Pond e do seu co-piloto Fred Gallagher Foi Hannu Mikkola, que liderou a prova com o seu Escort RS 1800 até que partiu a direção num troço nocturno. Pond assumiu a liderança e acabou por triunfar à frente do Escort RS 1800 de John Taylor, que dessa forma assegurou a vitória absoluta do campeonato. A terceira posição foi para Brian Nelson e para o seu Porsche Carrera.






Tony Pond
Jonh Taylor
Brian Nelson
Fred Gallagher



Triumph TR7
Ford Escort RS 1800
Porsche Carrera